quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tsunami a vista

Nossas relações comerciais com a China já foram objeto de alguns comentários aqui. Por exemplo, a China tem sido o principal alvo de direitos antidumping impostos pelo Brasil, o que vem sendo facilitado pela ausência de regulamentação de seu status como economia de mercado. Ocorre que essa "brecha" deixará de existir a partir de 2015.

Tudo isso, é claro, para dizer como sou "esperto", e poder fazer referência ao artigo de Heloisa Magalhães, no Valor de hoje (o link está na "caixa" no alto da página).

Produtos têxteis, calçados, bens de capital, até produtos siderúrgicos (!), todos representam uma ameaça de tsunami para a indústria brasileira, especialmente em momentos de contração da economia mundial, quando os países desenvolvidos deixam de consumir produtos chineses com grande voracidade e essas exportações tendem a ser escoadas para países emergentes, como o Brasil. Voltando ao artigo:
"Vale lembrar que as importações da China começaram a crescer de forma mais acentuada em 2003 e até o fim de 2008 haviam crescido 833%. Em 2003, respondiam por 4,4% das compras brasileiras no exterior, percentual que saltou para 11,6% em 2008. No primeiro semestre, a participação da China chegou a 12,1% no total das importações brasileiras. Já as exportações para a China, em 2003, respondiam por 6,2% da pauta brasileira. Em 2008, passaram a 8,3%, e neste primeiro semestre chegaram a 14,9% do total exportado pelo Brasil."
Heloisa Magalhães cita o Prof. Antonio Barros de Castro, do Instituto de Economia da UFRJ e assessor da presidência do BNDES, para quem os "preços chineses não são meramente baixos. São preços obtidos deliberadamente baixos para que também as próprias massas do país tenham acesso aos bens".

Daí, em particular, o problema para aplicação de medidas antidumping. Enquanto a China não é considerada como economia de mercado, seus preços de exportação para o Brasil são comparados com preços de terceiros países, o que permite e facilita a caracterização do dumping. Não necessariamente isso ocorrerá quando seus preços de exportação forem comparados com os preços de venda para o próprio mercado chinês.

De uma perspectiva mais ampla, afirma Barros de Castro:
"A presença chinesa é um fenômeno mundial, o problema é saber como reagir a ele. A reação só pode ser por escolha das nossas possibilidades. Temos de descobrir nossas possibilidades no mercado chinês, pois a melhor defesa é o ataque. Hoje, o máximo que se vê é um ou outro empresário deslocando fábrica para lá para se beneficiar dos custos chineses, mas existem vários campos e blocos de oportunidades se abrindo".
No entanto, ressalvadas ações pontuais, o Estado brasileiro tem demonstrado, não é de hoje, uma inaptidão ímpar para implementar uma política industrial consistente, que estabeleça um conjunto claro de regras e incentivos para que o empresariado venha a buscar essas oportunidades.

Um comentário:

  1. Caro,

    faço um convite para que prestigie o meu blo
    http://antitrustfordummies.blogspot.com/, voltado para leigos no antitruste.

    Abraço
    RDT

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