A China já vem impondo um desafio considerável à economia mundial (leiam a entrevista da Profª Vera Thorstensen ao Estadão - aqui). E tenho cá com meus botões que a situação irá se agravar, inclusive para nós, com as exportações chinesas ocupando espaço cada vez mais importante no mercado brasileiro e nos mercados de destino de nossas exportações.
Não se trata apenas de um problema macroeconômico, pelo potencial de desequilíbrio de toda a balança comercial (não só a bilateral), mas também de problema(s) setorial(is), devido à destruição de setores específicos e ao esgarçamento de todo o tecido industrial.
Não se trata apenas de um problema macroeconômico, pelo potencial de desequilíbrio de toda a balança comercial (não só a bilateral), mas também de problema(s) setorial(is), devido à destruição de setores específicos e ao esgarçamento de todo o tecido industrial.
Apocalipse à parte, fiquei curioso sobre a evolução do câmbio chinês, em razão do noticiário recente sobre "guerra cambial", e gastei um tempinho fazendo umas contas bem rápidas e simples.
A tabela abaixo apresenta as taxas de câmbio (moeda local em relação ao dólar norte-americano) do Brasil, China, Índia e Rússia simplesmente deflacionadas pelos respectivos índices de preço ao consumidor. A fonte de ambas as informações é a OECD.StatExtracts.
Taxas de Câmbio Deflacionadas |
É muito chato ler uma tabela com essa. Então, em linhas gerais:
- É extraordinária a pequena volatilidade do câmbio chinês, cujos valores mínimo e máximo foram 6,590 e 7,248 (variação de 10%). No caso do Brasil, os valores máximo e mínimo foram: 1,535 e 2,272 (variação de 48%).
- Em outros termos, os coeficientes de variação (uma medida de dispersão) das taxas de câmbio foram: Brasil - 0,13; China - 0,02; Índia - 0,08 e Rússia - 0,09.
(Cá entre nós, câmbio valorizado deve ser difícil, mas câmbio volátil deve agravar muito a situação.)
- Dá para notar que as taxas de câmbio do Brasil, da Índia e da Rússia desvalorizaram-se significativamente a partir da crise mundial: agosto-setembro de 2008. A moeda chinesa, o yuan, passou aproximadamente incólume pela crise ao longo de todo o período.
- Essa evolução temporal pode ser melhor percebida no gráfico abaixo, que apresenta os índices das taxas de câmbio, tendo janeiro de 2008 por base 100
- Todas as moedas, exceto o yuan, deram uma barrigada após a crise mundial, mas é visível que, a partir do segundo semestre de 2009, seguiram valorizando e, pasmem!, convergindo aproximadamente para o mesmo patamar da taxa de câmbio chinesa.
- Apesar das limitações óbvias desse exercício (que, por exemplo, não calcula as taxas de câmbio efetivas de cada país, isto é, referenciadas a uma cesta de moedas e não apenas ao dólar), é surpreendente: em junho de 2010, a taxa de câmbio brasileira encontrava-se valorizada em 10% em relação a janeiro de 2008, ao passo que a taxa de câmbio chinesa encontrava-se valorizada em 8%.
- O quadro muda caso a base de comparação seja outra. Por exemplo, se tivermos por referência (índice = 100) as respectivas taxas de câmbio de janeiro de 2009, como no gráfico abaixo.
- É notável a estabilidade no câmbio chinês, cujo índice passou de 100 em janeiro de 2009 para 98 em junho de 2010 sem qualquer grande variação ao longo do período.
- Rússia e Índia aparecem em seguida, com valorizações de 11% e 19% ao final do período.
- O Brasil é mais uma vez "campeão": 27% de valorização entre janeiro de 2009 e junho de 2010!
Dois comentários para finalizar.
Avaliar se o câmbio de um país encontra-se valorizado ou desvalorizado é uma tarefa difícil e não isenta de discricionariedade, pois depende pelo menos da escolha da cesta de moedas para comparação, dos deflatores a serem utilizados e, é claro, do período a ser considerado.
A despeito disso, parece razoável afirmar que parte importante do problema é nosso, pois deve ser atribuído à valorização do Real, sem entrar na discussão em si sobre o grau de desvalorização do yuan. Se a China mantém sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, aumentando sua competitividade (que em si deve ser brutal), nós nos encontramos no outro extremo, o que torna tudo muuuuuito mais difícil.
(Cá entre nós, câmbio valorizado deve ser difícil, mas câmbio volátil deve agravar muito a situação.)
- Dá para notar que as taxas de câmbio do Brasil, da Índia e da Rússia desvalorizaram-se significativamente a partir da crise mundial: agosto-setembro de 2008. A moeda chinesa, o yuan, passou aproximadamente incólume pela crise ao longo de todo o período.
- Essa evolução temporal pode ser melhor percebida no gráfico abaixo, que apresenta os índices das taxas de câmbio, tendo janeiro de 2008 por base 100
- Todas as moedas, exceto o yuan, deram uma barrigada após a crise mundial, mas é visível que, a partir do segundo semestre de 2009, seguiram valorizando e, pasmem!, convergindo aproximadamente para o mesmo patamar da taxa de câmbio chinesa.
- Apesar das limitações óbvias desse exercício (que, por exemplo, não calcula as taxas de câmbio efetivas de cada país, isto é, referenciadas a uma cesta de moedas e não apenas ao dólar), é surpreendente: em junho de 2010, a taxa de câmbio brasileira encontrava-se valorizada em 10% em relação a janeiro de 2008, ao passo que a taxa de câmbio chinesa encontrava-se valorizada em 8%.
Taxas de Câmbio Deflacionadas (janeiro de 2008 = 100) |
- O quadro muda caso a base de comparação seja outra. Por exemplo, se tivermos por referência (índice = 100) as respectivas taxas de câmbio de janeiro de 2009, como no gráfico abaixo.
- É notável a estabilidade no câmbio chinês, cujo índice passou de 100 em janeiro de 2009 para 98 em junho de 2010 sem qualquer grande variação ao longo do período.
- Rússia e Índia aparecem em seguida, com valorizações de 11% e 19% ao final do período.
- O Brasil é mais uma vez "campeão": 27% de valorização entre janeiro de 2009 e junho de 2010!
Taxas de Câmbio Deflacionadas (janeiro de 2009 = 100) |
Dois comentários para finalizar.
Avaliar se o câmbio de um país encontra-se valorizado ou desvalorizado é uma tarefa difícil e não isenta de discricionariedade, pois depende pelo menos da escolha da cesta de moedas para comparação, dos deflatores a serem utilizados e, é claro, do período a ser considerado.
A despeito disso, parece razoável afirmar que parte importante do problema é nosso, pois deve ser atribuído à valorização do Real, sem entrar na discussão em si sobre o grau de desvalorização do yuan. Se a China mantém sua moeda desvalorizada em relação ao dólar, aumentando sua competitividade (que em si deve ser brutal), nós nos encontramos no outro extremo, o que torna tudo muuuuuito mais difícil.
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