terça-feira, 13 de abril de 2010

A culpa de cada um

Não resisto a abordar "outro tema": os desastres (evitáveis) que ocorrem por essas bandas.

Muitos anos atrás, assisti a "Lista de Schindler" (1993) com meu irmão. Eu, que tinha tenros 26 aninhos na ocasião, comentei: como os alemães (em geral) compactuaram com essas atrocidades sem fazer nada?! Meu irmão, 6 seis anos mais velho do que eu, disse: do mesmo jeito que nós nos calamos diante das nossas (sem compará-las em si com o holocausto).

Lembrei disso diante da "grita" da imprensa, que rapidamente identificou responsáveis, eximindo a si e a todos nós da parcela da culpa que nos cabe diante da calamidade do Rio de Janeiro (de São Paulo, de Santa Catarina etc.).

Sempre que passo pela Marginal Tietê (esse é só um exemplo) e vejo aqueles barracos pendurados na beira de um córrego, penso (nessa ordem): (i) o que um estrangeiro deve achar disso! (ii) coitados, que vida desgraçada! (iii) nossa, do jeito que o trânsito está, vou me atrasar!

Obviamente, governantes, atuais e de outrora, têm o dever de evitar que  ocorram catástrofes dessa natureza. Mas, convenhamos, cada um de nós, cidadãos e instituições em geral, imprensa inclusive, compartilhamos a culpa, nem que seja por omissão.


3 comentários:

  1. Estimado Paulo,

    Li seu post no Blog "A Mão Invisível" e me identifiquei com suas angústias amigo.

    Tomo a liberdade de postar um texto de minha autoria, onde discorro sobre alguns pontos que abordas.


    Discurso da Servidão Voluntária

    “A tirania não é ato de força ou violência de um homem ou de um bando de homens, mas nasce do desejo de servir e é o povo que gera seu próprio infortúnio, cúmplice dos tiranos” (Marilena Chauí)

    Com “Le Discours de la Servitude Volontaire” (1552), compreendemos que a gênese da desumana opressão exercida pelos poderosos aos menos favorecidos é atemporal e universal. Escrita como um mero panfleto militante, aos 16 ou 18 anos pelo Pensador francês Etienne de La Boétie, enquanto estudante de Direito, esmiúça os porquês que levam a multidão a se permitir escravizar, cega e voluntariamente, a se dispor a servir.

    Para La Boétie é o povo que se sujeita e se degola; que, podendo escolher entre ser súdito ou ser livre, rejeita a liberdade e aceita o jugo, consente tal mal e até o persegue. Como ocorre esse processo é sobre o que o autor se debruça. Etienne esclarece que o tirano obtém seu poder com a conivência do próprio povo subjugado e que a este bastaria decidir não mais servir, recusar-se a sustentá-lo para que se tornasse livre. São apontadas na obra, as três razões que culminam numa servidão voluntária.

    Ao esmiuçar os meandros da servidão, revela como está em nós enraizada a vontade de servir, apesar de existir em nossa alma um germe de razão produtor da virtude (desde que alimentados pelos bons costumes e bons exemplos) e de que a própria natureza é justa (pois para esta, nenhum ser humano pode ser mantido em servidão). Os próprios animais prezam a liberdade e se recusam a servir; quando o fazem é por imposição.

    Afirma também haver três tipos de tiranos, maus Príncipes: 1) os que o obtém o poder pela força das armas; 2) àqueles que o herdam por sucessão da raça e 3) os que chegam ao poder por eleição do povo. Os que o obtém pelo direito da guerra, agem como em terra conquistada; quanto aos reis, nascidos e criados no seio da tirania, consideram os povos a eles submetidos como servos hereditários, têm todo o Reino e seus súditos como extensão de sua herança. Quanto ao eleito pelo povo, não nos enganemos: ao se ver alçado a um posto tão elevado, tão alto – “lisonjeado por um não sei quê que chamam de grandeza” – toma a firme resolução de não abrir mão da res pública. “Quase sempre considera o poderio que lhe foi confiado pelo povo como se devesse ser transmitido a seus filhos”. Para La Boétie, é essa idéia funesta que o faz superar todos os outros tiranos em vícios de todo tipo e até em crueldades.

    Para consolidar a nova tirania e aumentar a servidão, afastam toda e qualquer idéia de liberdade presente no espírito do povo. Em resumo, independente de como chegam ao poder, o modus operandi é quase sempre o mesmo: os conquistadores vêem o povo como uma presa a ser dominada; os sucessores como um rebanho que naturalmente lhes pertence e, por fim, os eleitos tratam-no como bicho a ser domado.


    ... continua...

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  2. Meu texto é um pouco extenso....

    Talvez seja melhor indicar o link amigo:
    http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_BOETIE.htm

    Esse também parece interessante:
    http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_Hannah_Arendt.htm

    Bjs., lu.
    www.esdc.com.br
    www.lucienefelix.blogspot.com
    E-mail: mitologia@esdc.com.br

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  3. Nós, cidadãos, nos omitimos muito...
    Parabéns pelo blog!

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